A BICICLETA COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO


A bicicleta do padeiro.
http://memoriasdomeubairro.blogspot.com/2010/07/padeiros.html

Há alguns anos atrás a bicicleta era muito utilizada por trabalhadores de várias profissões não só para fazerem as suas deslocações de casa para o local do trabalho e vice-versa, mas também como instrumento para a realização de tarefas próprias da profissão e muitos desses trabalhadores recorriam a esse meio para fazer o transporte de mercadorias, como os padeiros que utilizavam cabazes de verga feitos de forma dupla de modo a que assentassem no porta-bagagem das bicicletas, ficando a roda ao meio com uma parte do cabaz de cada lado, transportando assim o pão fresco que   distribuíam logo pela manhã.

Também os carteiros se deslocavam de bicicleta pelas aldeias, transportando o correio que entregavam de porta em porta e até os soldados da G.N.R. tinham as suas bicicletas que utilizavam nas rondas pelas ruas e estradas de vilas e aldeias, transportando a espingarda horizontalmente junto ao quadro.

Nos meios rurais existiam (e ainda existem algumas) também as figuras típicas como os amola-tesouras que se serviam dos seus veículos a pedal não só para se movimentarem, mas também para fazer funcionar o seu esmeril, através de uma engrenagem ligada à roda da bicicleta, ou os carvoeiros que transportavam o carvão para vender, nos porta-bagagens das bicicletas.

Carteiros em bicicleta
Existiam outros trabalhadores que utilizavam a bicicleta no exercício das suas profissões, como aqueles estafetas ou mensageiros que nos anos 70 percorriam as ruas de Lisboa entregando mensagens. Esses ciclistas, geralmente muito jovens, utilizavam bicicletas de corrida e deslocavam-se com grande mestria e rapidez no meio do trânsito, avistando-se às dezenas nas ruas movimentadas da capital.

Os veículos de duas rodas a pedal foram sendo gradualmente substituídos pelas bicicletas movidas a motor, não só nas deslocações como também no exercício do trabalho e mais tarde as quatro rodas dos automóveis substituíram as duas das bicicletas ou motorizadas. Hoje já ninguém consegue avistar um carteiro ou um padeiro a fazer a distribuição do pão ou das cartas utilizando a bicicleta e mesmo as motorizadas quase só são utilizadas pelos carteiros porque, de resto, quem comanda é o automóvel e mesmo em deslocações para o trabalho já ninguém prescinde do seu “bólinhas”, embora com a situação de crise atual seja provável vir a acontecer de forma parcial um “regresso ao passado”, que ninguém deseja, mas que poderá ser uma solução em vista dos elevados preços dos combustíveis e dos transportes.

AS BICICLETAS NAS FORÇAS ARMADAS

Um desfile de forças da Marinha em 1916, do qual faziam parte dois ordenanças que seguiam de bicicleta
O Exército Português iniciou o uso experimental de bicicletas no final do século XIX, sendo aquelas tropas, na altura, conhecidas por velocipedistas.

O primeiro uso em combate conhecido de bicicletas pelo Exército Português ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial. O Corpo Expedicionário Português enviado para França incluía um Grupo de Esquadrões de Cavalaria. Já no teatro de operações foi entendido que seria mais adequado às condições locais a utilização da bicicleta em vez de cavalos. O Grupo de Cavalaria foi então transformado em Grupo de Companhias de Ciclistas.

Em 1926 o Exército Português decidiu a organização de unidades exclusivamente de ciclistas. Foram então criados os Batalhões de Ciclistas. No entanto, estes batalhões foram logo extintos em 1927.

Um marinheiro, ordenança da Base Naval de Lisboa.
 (anos 70)
Na Marinha de Guerra as bicicletas foram utilizadas em quase todas as unidades em terra e também em muitas unidades navais.

A bordo dos navios serviam para uso do ordenança nas suas deslocações a terra, nos portos, e também eram usadas pelo pessoal da Taifa nas idas ao mercado onde o navio atracava.

Normalmente eram de cor cinza, igual à cor dos navios e com uma placa com o nome da unidade. A navegar ficava resguardada sempre dentro de algum compartimento para a preservar da corrosão do mar.

Nas unidades em terra serviam para o mesmo fim embora circulassem somente dentro do perímetro das instalações e na Base Naval de Lisboa existiam diversas, nos diferentes serviços.

As bicicletas a pedal deram lugar aos ciclomotores.
Foto cedida pelo Cabo M Camilo.
Mais tarde, um pouco a exemplo do que sucedeu na sociedade civil, surgiram as bicicletas a motor que percorriam toda a zona militar do Alfeite, conduzidas pelos ordenanças que circulavam por toda a Base Naval, Companhia de Adidos, Escola Naval, Arsenal, Corpo de Marinheiros, Portão Verde, Romeira etc. Quem utilizava a bicicleta era comum ter de usar também os plainitos de serviço, em lona, para a calça não prender na corrente.



O USO DA BICICLETA EM MISSÕES DE SEGURANÇA EM PORTUGAL.
 
Polícias em bicicleta.
Atualmente em Portugal, a bicicleta é utilizada principalmente de modo sazonal nas operações de vigilância das florestas e praias, bem como em algumas ações de policiamento de proximidade.

A P.S.P. e a G.N.R. apresentam um reduzido número de efetivos ciclistas. Na Figueira da Foz os bombeiros patrulham a frente marítima em bicicletas equipadas com equipamentos de primeiros socorros, na época balnear.

Durante a época estival o Ministério da Administração Interna promove um programa de vigilância das florestas com participação de jovens que efetuam o patrulhamento de bicicleta, entre outros meios como automóvel e motociclos. Não obstante a existência de unidades ciclistas em Portugal, estas encontram-se dispersas e isoladas entre si, não havendo uma estratégia integrada que considere o uso da bicicleta como um recurso importante no prosseguimento de políticas de vigilância e patrulhamento.

Para terminar, e como curiosidade, refiro que na 1ª Volta a Portugal em Bicicleta, realizada em maio de 1927, existiu uma categoria para participantes militares.

Agradecimento:
Este artigo foi elaborado com a colaboração do antigo marinheiro, Cabo M Eduardo Camilo.

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2 comentários:

  1. Boa noite Amigo José Alexandre
    Excelente artigo este das bicicletas, e bastante completo.
    Quem não se lembra dos Boletineiros...? Os tais que pedalavam por toda a cidade de Lisboa a entregar telegramas. Eram os rapazes da Rádio Marconi.
    Nós somos do tempo em que a bicicleta, tal como todos os outros veículos tinham regras de circulação.
    Hoje em dia é frequente vermos as bikes circular em sentido contrário, por cima dos passeios roçando os peões, atravessando nas passadeiras , etc etc...se calhar é mesmo assim.
    Como no meu tempo tinha de ter carta de velocípedes...daí o espanto.
    Um abraço
    Camilo

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  2. É verdade amigo Camilo. Era preciso ter carta e licença de circulação para andar de bicicleta e eu, um belo dia, apanhei uma multa de 50 paus (50 escudos), uma importância avultada para a época, por andar de bicicleta sem a respectiva licença.
    Bem, resta esperar que os "troikas" não lancem também algum nova taxa sobre as bicicletas. Com esta febre de impostos nunca se sabe...
    Um abraço.

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