O MOINHO DO AVIADOR

O Moinho do Aviador
Um destes domingos andei por Penacova a fazer umas pesquisas para escrever um artigo sobre o rio Mondego e sobre a barca serrana, quando reparei num edifício circular que se encontra no cimo de um monte sobranceiro à rotunda de acesso ao IP3. Este edifício, que se encontra com a base meio escondida pelos matos e arvoredo, tem uma arquitetura invulgar com uma cúpula bastante aguda e que, inicialmente, pensei tratar-se de algum templo religioso, ou coisa do género, pois mesmo à distância deixa adivinhar que não se trata de um moinho de vento.

Decidi ir até lá, o que não parecia tarefa fácil, pois teria de contornar o monte por algum lado. Decidi seguir pela estrada que sobe na direção da Espinheira, até que encontrei uma cortada à direita por onde segui. Essa estrada passa num local de onde se avista o tal edifício a curta distância, mas ainda inacessível, pois a separá-lo encontra-se uma ravina bastante profunda.

Alguns quilómetros mais à frente, encontrei uma estrada que segue para a direita com uma placa a indicar Ermida de Nossa Senhora de Mont’Alto e decidi seguir por aí ganhando força a convicção de que se trataria de alguma espécie de construção religiosa e que faria parte desse Santuário.

Quando cheguei ao dito Santuário, que mais tarde vim a saber ter sido ocupado pelas forças anglo-lusas durante a Batalha do Buçaco, do estranho edifício circular nem sinal.

Andei por ali às voltas, nas redondezas do Santuário, mas nada… Resolvi então voltar para trás e enveredar por uma estrada de terra que se embrenha no interior do pinhal. Há por ali muitos caminhos florestais que se entrecruzam sem qualquer indicação, mas, seguindo o meu instinto de orientação, após ter percorrido cerca de um quilómetro avistei o estranho edifício, meio encoberto e semi-rodeado por acácias raquíticas que, se não fosse o estado de abandono e destruição, poderia parecer um daqueles castelos dos contos de fadas, perdidos nas florestas, onde quase sempre se encontrava uma donzela sequestrada à espera de um príncipe encantado para a levar dali, montada no seu cavalo.


Este edifício com um misto de romantismo e mistério, está votado ao abandono.

O curioso edifício apresenta, exteriormente, alguns sinais de degradação e de há muito estar votado ao abandono, sinais que ainda são mais fortes quando, após penetrar no seu interior, se verifica uma degradação ainda maior provocada não só pela passagem do tempo, mas também por humanos, o que se adivinha em vista de vários objetos que foram ali deixados e também por inscrições nas paredes.

Uma escada semi-destruída, com os degraus descarnados, conduz ao primeiro e segundo pisos onde são visíveis os mesmos sinais degradantes. A partir daqui já não é possível subir para a cúpula pois o resto da escada desapareceu.

Quando se vê o seu interior, o mistério mantém-se, mas o romantismo desaparece...
Este edifício foi construído com pedra e tijolos antigos de dois furos o que indica alguma antiguidade na construção, devendo ter mais de 50 anos. Não existe por ali nada que indique a finalidade daquele edifício, construído no pinhal e alcandorado nas rochas, quase no limite leste da Serra do Buçaco.

- Moinho de vento não é de certeza… - falei com os meus botões - posto de vigia para incêndios? Não, também não me parece.

- Bem… vou ver à Net, que deve lá estar qualquer coisa que diga do que se trata.

Resolvi regressar e, dado o adiantado da hora, não efetuei qualquer paragem para perguntar a alguém que me informasse para que teria servido aquela construção tão excêntrica, convencido como estava que encontraria na Internet a chave do enigma.

Fiquei algo surpreso quando após várias tentativas de pesquisa no Google, utilizando as palavras-chave mais variadas e mesmo utilizando Penacova e a Ermida da Senhora do Mont’Alto, como referencia, não logrei qualquer resultado. Estranhei que uma construção invulgar como aquela que se avista à distância e de vários pontos, não estivesse referenciada na Internet, tendo resolvido voltar a Penacova para tentar encontrar alguém que me pudesse dar informações a respeito do estranho edifício.

Escolhi um local de onde se avistava a dita torre e então abordei um senhor de meia-idade:

- Bom dia!... Desculpe, sabe-me dizer para que serve aquela torre tão engraçada, ali no monte?

- É o Moinho do Aviador – respondeu o senhor.

- Então… mas para que é que serve ou serviu aquele edifício ali no meio do mato?

- Aquilo foi um senhor que era aviador e construi aquela torre ali, talvez para passar férias, mas nunca foi acabada. Eu vim para aqui viver em 1980 e aquilo já estava assim.

- É uma propriedade particular, então?

- É e tem sido alvo de vandalismo nos últimos tempos.

Despedi-me do senhor, achando que o mistério estava em parte desvendado. - Esse tal senhor que era aviador devia ser bastante excêntrico, pensei…

Nota: Afinal, já tinha sido publicado algo sobre aquela torre, o que verifiquei após ter utilizado as palavras “moinho do aviador”, tendo encontrado este blog: 

http://ohomemdastabernas.blogspot.com/2011/08/pinturas-rupestres-no-moinho-do-aviador.html

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