Velho Barco, Abandonado...

Paul de Arzila
O Paul de Arzila é uma importante zona húmida do país, que se situa na margem esquerda do Rio Mondego, num área de 535 hectares, distribuídas pelos concelhos de Coimbra, Condeixa-a-Nova e Montemor-o-Velho.

Contudo, é junto da aldeia de Arzila, ainda no concelho de Coimbra, que se situa o edifício designado por Centro de Interpretação e também um percurso pedonal de cerca de três quilómetros, donde podem ser observadas algumas espécie de aves, peixes, mamíferos e anfíbios que povoam aquele habitat natural.

O que mais me impressionou ali, para além do silêncio entrecortado apenas pelo esvoaçar das aves, do coaxar das rãs e de outro ruídos característicos duma zona desta natureza, foram duas pequenas embarcações abandonadas junto a uma ponte sobre um dos rios que atravessam o Paul. Penso que se trata da Vala dos Moinhos, mas como não gosto da designação de “vala” prefiro chamar-lhe rio. Neste local encontram-se ainda alguns antigos sistemas de elevação de águas, um varandim em madeira debruçado sobre uma zona semi-alagada e uma torre de observação.

Voltando aos barcos abandonados, vi ali dois, estando um deles submerso nas águas do rio.

Penso que o abandono destas embarcações estará ligado à proibição da caça e pesca na zona do Paul, quando este passou a zona protegida, no ano de 1988, o que levou a que deixassem de ter utilidade para esse fim.

Quando era miúdo sonhava ter um barco daqueles para navegar no meu rio, mas nessa impossibilidade construía jangadas com troncos de árvores ou canas e ao ver aqueles barcos ali a agonizarem, sem honra nem glória, senti alguma mágoa, tendo balbuciado um pequeno poema:

Velho barco abandonado,
Por onde navegaste tu?...
Triste sina, triste fado,
Acabares assim…destino cru!

Que rios, que águas sulcaste?
Que sombra, que murmúrio de folhas secas te inspirou?
Esse marulhar de remos com que tangeste uma canção,
Não impediu que a noite chegasse e aqui ficaste…

Sem dó, sem direito a uma oração!...
Podia formar-se um rio com as lágrimas que choraste…
Até doía… até cortava o coração!...
Ouvir as tuas tábuas que rangiam
Confundidas com o sopro do vento
No meio de gaivotas que fugiam,
Do tempo intenso e curto de um lamento.

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