Estranho Abril

Após trinta e sete anos volvidos desde esse dia fantástico que foi o 25 de Abril de 1974, em que a esperança renasceu, depois da longa noite do fascismo, daquela madrugada em que os nossos gloriosos militares invadiram o Terreiro do Paço, eis-nos outra vez mergulhados na escuridão, na incerteza, com a nossa mítica praça a ser de novo invadida, não pelos nossos soldados que nos trouxeram a esperança de dias melhores, mas por estrangeiros, que nos vêm ditar ordens, impor medidas de austeridade, provocadas por décadas de incompetência e desvario daqueles em quem o povo tem confiado o seu destino, levado por promessas que quase nunca foram cumpridas.

Desse Abril longínquo, hoje já só resta a nostalgia. A esperança num futuro melhor que todos ambicionavam, com a introdução de leis e medidas justas, desapareceu completamente e deu lugar ao medo, à desconfiança, ao desespero…

Abril, Abril…
Mês de contrastes, de esperanças vãs,
De cravos, de sonhos mil…
Desfeitos na angústia do amanhã…

Estranho Abril…
Onde estão os teus soldados?
Esses homens, nobre povo,
De uniformes envergados.

Queremo-los aqui de novo
Com os civis misturados
Não queremos estrangeiros
De fato e engravatados

Volta Abril, a ser como dantes,
Afinal não tens idade...
És como os jovens amantes
Que anseiam liberdade!

2 comentários:

  1. Primeiro, obrigada pela visita.
    Não o fazia poeta :). Sinto o mesmo. Já não é a 1ª vez que somos visitados pelos engravatados. Desta vez abusámos... e parece que os nossos representantes políticos não compreenderam o fosso em que nos colocaram. Mas a esperança é a última a morrer. Se preciso for, vamos de novo para a rua, de cravos na mão. É preciso é que alguém, alguém à moda antiga no bom sentido dê o 1º passo e nos sacuda a ver se acordamos.
    Desejo-lhe um bom fim de semana.
    Um abraço.

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  2. Boa tarde Amigo José Alexandre
    Felicito-o pelo poema e por recordar Abril.
    Este Abril tão sombrio e tão sofrido que nada tem a ver com o Abril do nosso contentamento, quando na juventude empunhámos armas para "correr com os cabrais que eram falsos á Nação" como diria o poeta.
    Hoje lamentamos o facto de apesar de haver armas, não haver quem as empunhe e se coloque ao lado do povo.
    Consta-se para aí que neste Abril nem dinheiro há para Cravos...foi todo gasto em Rosas.
    Auguro que os futuros Abris serão relembrados com cardos e espinhos.
    Um abraço para si Camarada de Abril/74
    Camilo

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