TAMAZINHOS

Alminhas em Tamazinhos. Aqui seria noutros tempos, talvez, a entrada principal da aldeia.

Paredes de pedra calcária enegrecidas pelo tempo… esqueletos de casas esventradas pelo desuso e abandono, com as suas ruas atapetadas de verde, indicando que por ali deixaram de circular pessoas, carroças ou animais…

Tamazinhos, uma aldeia onde o silêncio é perturbado apenas por alguns pequenos canídeos que ladram ao viajante que passa, como a dizer que ali há gente, que Tamazinhos ainda vive, ainda existe…

Salvador Dias Arnaut e Pedro Dias, em 1983, no seu livro Penela, História e Arte, diziam a respeito desta aldeia:

No sopé do Monte Gerumelo, no ermo, sem estrada de automóvel, com uma fonte moderna a jorrar água, Tamazinhos corta o coração. Tem três fogos agora, e já teve muitos mais (vinte em 1758), que estão em ruínas. Os actuais moradores dão naturalmente vida às ruas, que as casas, algumas com certo aparato, destelhadas, desventradas, ensombram como cadáveres. O lagar… até o S. Nicolau teve de abandonar a sua capelinha setecentista.

…Muitos noitibós (lembra Manuel Cristiano) cantavam o requiem pelo lugar. E uma louca, da sua casa alpendrada agora a cair, juntava-se-lhes, bradando aterradoramente…


Apesar do poste de electricidade, parece difícil que o interior
 destas casas tenha sido iluminado por luz eléctrica.

Na verdade, se Tamazinhos em 1983 cortava o coração, assim continua, apesar de agora ter acesso de automóvel, por uma estrada estreita, mas transitável, sendo até alcatroada.

Esta estrada foi, talvez, o único melhoramento a chegar a Tamazinhos, desde 1983, pois a fonte já existia e a luz eléctrica também, não se vendo por ali mais nada que indique algum progresso.

Tamazinhos é uma aldeia toda construída em pedra, sem o uso de qualquer argamassa, ou mesmo barro simples, a fazer a ligação dos blocos de pedra das paredes, o que se tornou possível devido à simetria das peças calcárias que abundam naquela zona, existindo até, não muito longe dali, uma pedreira em exploração.

Em muitas paredes, arruinadas, ainda se vêem as ombreiras e as padieiras, formando a abertura das portas, de onde a madeira já desapareceu há muito tempo.

Uma das poucas casas ainda intactas.

Mas nem todas as casa mantiveram a sua aparência original, onde a pedra era o único material visível nas paredes, e algumas, talvez as mais tardas ao abandono, foram rebocadas e até foi utilizado algum tijolo de barro, que ficou à vista, ficando a destoar da ambiência local.

A Capela. No pórtico de entrada está o número 1716, provavelmente o ano da sua construção.

A aldeia tinha uma Capela, dedicada a S. Nicolau, de que também já só restam as paredes, com a frontaria encimada por um pequeno pórtico em abóbada terminando em bico, que não me atrevo a chamar de torre sineira, mas era ali que o sino funcionava, tocando para reunir os aldeãos para as cerimónias religiosas, ou por qualquer outro motivo. A parede frontal ostenta ainda, na peça superior do pórtico principal, o número 1716, gravado a cinzel na pedra, que será, provavelmente, a data da construção da Capela.

Marco miliário de Tamazinhos
Por aqui passou uma estrada romana e nela foi encontrada uma interessante peça de pedra calcária de forma cilíndrica, datada de 250 d.C.; um marco miliário, que se encontra em exposição no Espaço-Museu do Rabaçal e que é denominado por marco miliário de Tamasinhos, por ter sido achado perto da aldeia.

O Monte Gerumelo fica já ali a dois passos. O Germanelo fica um pouco mais além. A meio fica a aldeia da Fartosa. Quem sabe se o silvo do martelo dos irmãozinhos ferreiros Melo e Gerumelo, não se teria ouvido ali, rasgando os ares, voando de monte para monte, para que os dois gigantes pudessem, à vez, malhar o ferro das lanças dos cavaleiros romanos que passavam por ali…

Leia também "O Monte Gerumelo" e conheça a lenda dos irmãos ferreiros.

4 comentários:

  1. Olá meu caro, como estão as coisas por ai e como foi seu Natal? E, já que estou a perguntar, por que existem vários lugares assim abandonados em Portugal?
    Parece que a terra é muita para pouca gente, esses lugares são assim por alguma razão em particular?

    São bonitas as paisagens e os 'artefatos' deixados.
    beijo para voce e meu desejo de uma feliz passagem deste ano para 2011 !

    Cintia

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  2. Cara amiga Cintia:
    Por aqui está tudo bem, dentro do possível, e o Natal passou-se com saúde, graças a Deus.
    A razão de existirem aldeias abandonadas, ou semi-abandonadas, em Portugal, deve-se, principalmente, ao facto dos seus habitantes emigrarem, em busca de melhores condições de vida, para outros países e também para outras regiões de Portugal, em especial para a zona de Lisboa, fixando residência por lá.
    Mas há aldeias que foram ou estão a ser recuperadas, e vindo a ser habitadas por estrangeiros ou por pessoas oriundas de cidades portuguesas que gostam de viver no campo, ou em zonas serranas.
    Desejo-lhe um feliz Ano Novo!
    Beijinhos.
    José Alexandre

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  3. Mais um ano se passa
    e juntos podemos comemorar a virada de um novo tempo,


    de encher nossos corações de esperanças,
    de dizer adeus ano velho, feliz ano novo


    E mesmo com todos os obstáculos que a vida nos prepara, conseguimos superar as barreiras e passar para este outro ano que com certeza será melhor.

    Desejo que esse ano seja um ano de realizações, que você consiga atingir todas as suas metas e que seja um ano de muita paz, saúde e alegria.

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  4. Ah, entendo isso ... uma triste realidade a pessoa preciar mesmo correr atrás de melhores situações de vida , muitas vezes abandonando tudo pelo qual lutou a vida toda. Mas, que bom que as coisas , aos poucos , voltam a melhorar...espero que muitos lugares como esses tenham renovação e que as pessoas que lá habitarem sejam felizes!
    Um excelente ano para todos nós querido amigo, e muitos momentos de boa 'blogagem' para voce!

    beijinho

    Cintia

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